Resumen
Cristóvão tinha três filhos e uma lindíssima égua branca. Eram bens preciosos, sem dúvida, os bens mais preciosos da terra, mas Cristóvão, nos últimos tempos, perdera a alegria. Sentia-se envelhecer, queria fazer testamento, e não sabia a quem deixar o animal. Ele gostava de todos os seus filhos, e estes também lhe queriam bem. Ainda recentemente, por ocasião do seu aniversário, nenhum deles o havia esquecido. António, o mais velho, ofereceu-lhe um capote; Joaquim, o do meio, deu-lhe um cavaquinho; João, o último que Raquel pusera no mundo, trouxe-lhe uma rosa vermelha. (…)
«Próxima do universo e das referências habituais dos contos tradicionais, onde se assiste à disputa de um ser especial por três irmãos, a narrativa de Eugénio de Andrade recupera igualmente um estilo e uma linguagem próximos dos do contador de histórias, estabelecendo uma relação próxima e cúmplice com o narratário com quem partilha e comenta os pormenores da acção. Contudo, a propor um final inesperado que castiga os três irmãos, o narrador afasta-se do paradigma dos textos da tradição oral, recompensando uma personagem que não pertence ao círculo inicial das personagens. (...)»